Leonel e Anna. Joaquim e Ana. Amor e amizade, na Amazônia.
"É preciso dar um jeito, meu amigo"
(Erasmo Carlos e Roberto Carlos).
@1flaviocarvalho
@amaconaima, sociólogo e escritor.
Barcelona, 27 de fevereiro de 2025. 14 de Março de 2025.
O pai de Leonel Manso Vieira foi sequestrado e
torturado pela ditadura militar brasileira. O irmão mais velho foi
preso naquele mesmo dia, junto com o pai. Ele, o pai, escreveu livros
denunciando com detalhes toda a tortura que sofreu.
O
pai se chamava Ildeu. O filho mais velho também.
Leonel
migrou pra Barcelona, no ano dos Jogos Olímpicos, no dia do seu aniversário. Renasceu. Depois foi morar em Figueres, terra do artista catalão mais universal, Salvador Dalí.
Ali vive, Leonel, até hoje, Casado com Anna, catalã, arquiteta e
guia turística. Anna é dedicada a conversar, com prazer, em português. Com ela se aprende muito. E bem.
Anos atrás, Leonel voltou no Brasil. Convenceu o amigo
catalão, Joaquim, que nunca tinha sido um grande usuário das
bicicletas, a viajar pra Amazônia brasileira. Com o objetivo de
baixarem pela América de bicicleta, ambos, percorrendo todo o país.
Da Amazônia a Patagônia.
No barco de passageiros, já na Amazônia, Joaquim conheceu Ana (outra, brasileira; não confundir com a Anna anterior). Quim e Ana ficaram se correspondendo por cartas, depois pela Internet, como antes se fazia. Amor platônico.
No meio do caminho, a filha de Leonel anunciou o nascimento do primeiro netinho dele. Pra ajudá-la, vovô Leo decidiu não prosseguir até a Patagônia argentina. O amigo Joaquim, até hoje, não lembrava (ou não conhecia essa história). Nunca escondeu sua frustração por seguir sozinho, sem o amigo, novo avô. Afinal, viajaram por amizade. Logo a vida seguiria, por amor.
O Salão de Beleza de Ana, cabeleireira e esteticista, no Pará, sofreu um roubo devastador. Enquanto isso, Joaquim seguia na Bicicleta, na Bahia. Foi quando soube do roubo e, mesmo de longe, não hesitou em ajudá-la (com dinheiro que nem tinha).
Joaquim, sim, de bicicleta, chegou até a Ushuaia argentina, Terra do Fogo, extremo sul da América Latina.
Leonel não conseguiu, por razões externas. Embora se
tornasse depois um ciclista desses de dar a volta ao mundo. Certo dia
me comunicou que estava atravessando o Irã nevado. Sua bicicleta não
é motorizada, importante salientar essa questão.
Joaquim
me contou, domingo passado, que (naquela época) até pensou em
desistir do objetivo da viagem, por causa da paixão pela sua Ana.
Porém, prosseguiu. Ganhou forças pro amor.
Tempos
depois, Leonel sofreu um derrame cerebral, um AVC, que paralisou boa
parte (65%) do lado direito do seu corpo. Isso somente o motivou a
ser ainda mais aventureiro. Até hoje. Comanda um festival de cinema
de aventura, em Girona. Formou-se como produtor audiovisual, além de assessorar viagens "especiais". Nunca largou a Bicicleta. Nos revelou que boa
parte das suas forças são provenientes dos anos que praticou Judô,
chegando ao grau de Faixa Preta, na juventude, no Brasil.
Joaquim foi morar com
Ana, na Amazônia. Depois a trouxe pra cá, pras terras catalanas.
Ainda hoje ele sonha voltar à Praia do Amor, praia de rio, do Tapajós, em Alter do Chão, no Pará.
(Praia essa onde hoje Ana está, comemorando seu aniversário, novo ciclo de vida).
Ali perto, no bioma amazônico, Joaquim, naquele tempo, testemunhou um grave incidente. Uma pessoa quis
fazer mal à Ana (e a ele). Não conseguiu porque ela, Ana, invocou
toda a sua proteção transcendental. E, assim, o frustrado agressor
foi atropelado por um ônibus, naquele mesmo instante. Joaquim estava
lá.
Dia desses, na Catalunha, na casa rural muito antiga e
linda (onde dormimos, eu e Flavinha, voltando da
França), Ana me mostrou, emocionada (eu também), o documento
oficial de fundação do primeiro terreiro de Umbanda das Comarcas de
Girona.
Ana foi a celebrante (oficialmente, pra gente,
muito importante) do nosso casamento, meu e de Flavinha. Joaquim foi
o seu assistente em todo o ritual. E a isso se dedica, até hoje,
aquele que antes era um puro cético. Além de cuidarem, juntos, o
casal, da produção rural familiar e dos três filhos. E de um
apartamento turístico, muito recomendável, em um entorno precioso.
No dia que
eu conheci Aninha, ela estava sentada na Font de Canaletes, nas
Ramblas de Barcelona, num ato contra Bolsonaro. Parecia em transe,
toda de branco e com algo vermelho, do PT. Tocava no tambor um
cântico pela Liberdade de Lula. Jamais esqueci.
No nosso
casamento, Joaquim e Leonel (e Ana e Anna) se reencontraram, sem
esperar. Quase por acaso, pois o acaso não existe. As coisas
acontecem quando tem que acontecer.
A mãe de Flavinha,
minha sogrinha querida (oceanógrafa de formação, como Leonel), Patrizia, contou pra gente, no meio do nosso
casamento, que faz muitos anos que conheceu o irmão mais velho,
aquele, o Ildeu. Lá na Bahia, onde Joaquim conseguiu ajudar Aninha a recuperar-se do roubo,
lembram?
Antes de ir pra França, jantamos um peixe
preparado por Leonel. Dormimos na casa de Anna e sua.
Na volta de Perpignan, dormimos na casa de Joaquim e Ana, depois de jantar Picanha na brasa, preparada na lareira, à lenha, na sua casa.
Tudo isso,
porque o amor venceu.
Viva Seu Ildeu, o pai de Leonel. Um
Rubens Paiva, daqueles que Ainda estão aqui, presentes, em nós.
Ah. Quer
saber como eu conheci Leonel, em Barcelona? Quase por acaso. O acaso
não existe.
Bom saber que hoje mesmo Ana está ali, recarregando suas
energias ancestrais, na Amazônia.
Viva as amizades,
que também vencem.
No Linked-In, Leonel Manso Vieira se apresenta como Gestor de Experiências Inclusivas. Recomendo que o sigam, em várias redes sociais.
No Youtube, pode ser encontrado em Pedalant Pel Món (Pedalando pelo mundo, em catalão).
A sua bicicleta se chama Carpe Diem.
Nesse link, há uma conversa minha com Leonel, na Internet:
Leonel e Flavio, em Barcelona, conversando.
Ana Guillamet, hoje Mãe Anna D'Oxum, realizou diversos estudos, como Naturopatia e Tarô.
É fundadora do Templo de Umbanda Ogum Beira Mar, em Navata, Catalunha.
Foi uma das refundadoras do Núcleo do PT em Barcelona.
Joaquim Guillamet, seu companheiro, na vida e no Terreiro, é mecânico, um doce-gigante-homem.
E aquece nossas vidas, com boa lenha, sempre que o visitamos.
Anna, de Figueres sabe tudo sobre Salvador Dalí. É Guia Turística. Fala Português. Está estudando história da arte, em Girona. Uma pessoa encantadora.
A cada 14 de Março, data do assassinato de Marielle Franco e dia de nascimento de Karl Marx e de Abdias Nascimento, Aninha, comemora o seu aniversário. Esse textinho é um pouco presente de aniversário, também.
Que todas as pessoas os conheçam. Dois casais que entraram pra sempre nas nossas vidas.
Axé. Aquele abraço. Meu e de Flavinha. Se não fosse por ela, esse textinho não sairia. Nem aqui eu estaria.
Comentários
Postar um comentário